Pedro Bertolino
O Morro da Cruz
não tinha luz
nem televisão
era apenas
Morro do Antão.
A Ponte Hercílio Luz
tinha trilhos de pranchão
e um guarda sempre de plantão (...)
O ônibus
parava na Alfândega
e não se chamava terminal
era apenas ponto final (...)
A chuva
Molhava a gente
nas noites de carnaval.
O Job sabia de tudo
frequentava o senadinho
e sacaneava aquele mudo
do café do seu Foguinho (...)
A Dona Traça
se pintava
na Figueira da Praça
todas as manhãs.
As lavadeiras de Sambaqui
pareciam margaridas
deixando as ruas floridas
com seu ti-ti-ti.
Desciam na Catedral
de um ônibus quase sem bancos
e levavam na cabeça
aqueles seus sacos brancos.
Com as duas mãos soltas
cumpriam desenvoltas
seu rito matinal.
Eram marias
Marias de carnaval
levando na patroa
as roupas do varal.
O Morro da Cruz
não tinha luz
nem televisão.
Era apenas
Morro do Antão.
Pedro Bertolino
(Poesia publicada na revista "Santa Catarina Magazine", Ano 1 - Edição 9- 2009)
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